Em Brasília, paredes são de vidro
No dia 17 de julho de 2007 um acidente aéreo com o vôo JJ3054 da TAM em Congonhas deixou 199 vítimas fatais. Logo procurou-se os responsáveis pela tragédia. O governo foi acusado pelo descaso com o sistema de gestão aéreo e a falta de condições da pista como uma suposta falha mecânica no avião. Tudo divulgado a todo momento. É na noite da divulgação desta falha pelo Jornal Nacional que o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia e seu assessor Bruno Gaspar fazem gestos obscenos no Palácio da Alvorada. Lá embaixo, uma câmera da Rede Globo, posicionada para uma entrada ao vivo na programação capta a ação.
Mais tarde, o Jornal da Globo apresenta o ocorrido. Os gestos são tidos como comemoração. Um desrespeito aos famíliares, vítimas e à população. O assessor Marco Aurélio respondeu ao vazamento de sua imagem. E a culpa era da mídia. Ele disponibilizou seu cargo. A repercussão ainda arrasta o Ministro da Defesa Waldir Pires que também deixa o cargo, influenciado pela crise aérea. Assume Nelson Jobim.
No mundo, o gesto obsceno é noticiado pelo Repórter sem fronteiras, Financial Times,
reportagem em horário nobre no canal francês France 2, no The New York Times, El Clarín que descreve o gesto e seu significado moral e a BBC.
Claramente, a busca destas imagens evidencia a disputa de audiência em que os casos mais curiosos têm destaque para a população. Nestes casos, é legítimo divulgar imagens obtidas por acaso?
Maximizar um fato negativo também pode ser um refúgio para as notícias de sempre. Enquanto os laudos técnicos não ficaram prontos não só a Rede Globo, mas todos estiveram todos os dias atrás de detalhes. Segundos que encheriam a edição do dia.
Há ainda outras questões que ainda não foram respondidas. É notícia? Houve invasão de privacidade? A reportagem contribuiu para o entendimento das causas do acidente? A população ficou mais bem informada sobre a crise aérea? Reproduziu o ponto-de-vista do governo sobre essa questão? O seminário pode auxiliar a encontrar algumas respostas possíveis.
Original publicado em 08/out/2008 no http://migre.me/aKgqI
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