Funarte sobrevive: A melhor iniciativa cultural recente está esquecida no centro da cidade

A Funarte (Fundação Nacional de Arte) foi criada em 1975 para incentivar e amparar o desenvolvimento da arte em todo o Brasil. São desenvolvidas atividades culturais ligadas ao teatro, circo, dança, fotografia, música, artes gráficas e plásticas.
Também tem por objetivo auxiliar pesquisas nestas áreas e preservar as produções culturais de todo o Brasil reunindo grande parte da documentação do que foi produzido. A Fundação está preocupada em criar contato entre artistas de diversos estados do Brasil que, através destes encontros podem trocar suas experiências entre si. "É um processo que busca unir todo o país", diz Violeta Rios, produtora de artes visuais e música da fundação.
Violeta tem 26 anos, é formada em artes plásticas. Entrou na Funarte em 1999 como estagiária e lá permaneceu até 2001. Retornou pouco tempo depois, mas não podia ser contratada. O contrato veio com a mudança para o governo Lula em 2003.
A fundação é vinculada ao Ministério da Cultura e por anos foi abandonada pelo Governo Federal. A Sede Nacional fica no Rio de Janeiro. Há sedes regionais em Brasília, que coordena projetos das regiões Nordeste e Centro-Oeste, e em São Paulo, responsável pelo Sul e Sudeste do Brasil. Qualquer projeto apresentado por uma sede regional deve ser aprovado por uma comissão no Rio.
Em março de 1990, o ex-presidente Fernando Collor extinguiu todas as instituições culturais logo ao assumir o cargo. Nestes treze anos, não foram abertos editais para a reforma do prédio. No governo FHC as verbas destinadas eram insuficientes. Neste período os funcionários não recebiam remuneração, mas compareciam periodicamente para prosseguirem os trabalhos. "Desde 90, o número de funcionários é o mesmo. Talvez tenha um concurso próprio até 2006", revela Violeta Rios.
Em São Paulo, ao passarmos pela Alameda Nothmann - bairro Campos Elísios - nos deparamos com uma fachada abandonada. "O prédio está judiado pelo tempo", confessa a produtora.
A Funarte é responsável por ceder os espaços culturais públicos através de licitações abertas a companhias de teatro que não têm onde ensaiarem ou grupos amadores que desejam expor seus trabalhos. O edital é lançado mensalmente para a sala Guiomar Novaes e semestralmente para o Teatro de Arena. Para a encenação das peças cada licitação é válida por seis meses e ainda pode ser renovada.
Os recursos financeiros da Funarte são provenientes do Tesouro Nacional e devem ser aprovados pelo Congresso e da arrecadação própria através de suas atividades. A bilheteria é estabelecida pelo próprio grupo vencedor do edital. A Funarte define que o ingresso não ultrapasse R$ 12. Sendo que 10% de toda a arrecadação deve ser repassada à entidade. Nas apresentações musicais, os artistas ainda devem enviar mais 10% da arrecadação ao ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). A organização centraliza a arrecadação e a distribuição de direitos autorais e conexos, gerados pela execução pública de obras musicais e de fonogramas.
Pague quanto der - é ingresso, não é contribuição
Os grupos recebem uma ajuda de custo da Funarte na fase de produção. Patrocínios são permitidos, mas são poucas as empresas que incentivam iniciativas culturais.
Neste fim de ano, o Teatro de Arena possui uma programação especial. A Companhia Livre faz até 19 de dezembro uma leitura dramática da peça "A Morte de Danton" escrito em 1835 por Georg Büchner no Teatro de Arena Eugênio Kusnet, dando início as comemorações do cinqüentenário do Arena. As apresentações são realizadas de quinta a sábado às 21h e domingos às 19h.
O grupo determinou que o valor da entrada é livre. O público decide quanto quer pagar. A iniciativa é boa para que todos tenham acesso ao espetáculo. Não seria justo que as pessoas deixem de ir ao teatro por não ter o valor exato da bilheteria. "As pessoas pagam um ou dois reais porque é o único dinheiro que têm", comenta Violeta.
A equipe espera atrair um grande público de baixa renda. Mas não despreza o público de maior poder aquisitivo. Só assim a companhia espera saldar os custos. A proposta é tornar popular o desejo de ir ao teatro através do ingresso popular.
Reviver os cinqüenta anos do Arena não é uma tentativa de voltar ao passado. Todo o trabalho com pesquisas deseja refletir o passado com uma visão atual e ultrapassar inúmeras barreiras impostas desde o governo militar. E a proposta parece bem-sucedida: num levantamento realizado com a bilheteria de janeiro a junho de 2004, quase 7.700 espectadores assistiram a peças em cartaz no teatro, que tem capacidade para 99 pessoas.
No projeto Cia. Livre Conta Arena 50 Anos estão leituras de peças, palestras, debates e depoimentos sobre o papel do teatro na cultura brasileira. Todos os eventos são gravados em vídeo digital que serão documentados e reunidos em um CD-ROM sobre o Arena.
Em novembro passado, a grade de eventos contou com palestras sobre o papel do Teatro de Arena na nossa cultura; encontro entre cenógrafos, figurinistas, diretores, outros profissionais e estudantes da área, para divulgar idéias e discutir sobre a cenografia brasileira; apresentações dos músicos Keco Brandão, Tonho Penhasco e Lucila Novaes na Sala Guiomar Novaes. O espaço possui uma excelente infra-estrutura para a música. Atualmente as apresentações musicais têm grande destaque. Quem visita o espaço numa tarde no meio da semana, pode conferir ensaios de novos grupos de diversos estilos.
Infelizmente projetos como a Funarte deveriam ser exemplos brasileiros de valorização à cultura nacional. Mesmo com pouca ajuda do Estado, ela só resistiu ao tempo e às dificuldades graças aos funcionários que por viverem de arte acreditaram nela.
Serviço
Na sede paulista da Funarte estão instalados a Galeria Mário Schenberg, a Ala Jorge Mautner, o Espaço Almeida Salles e o Espaço Darcy Ribeiro.
Funarte - Fundação Nacional de Arte
Alameda Nothmann, 1058
Campos Elísios
Próximo às estações Santa Cecília e Marechal Deodoro do Metrô
www.funarte.gov.br
Funcionamento: das 9h às 20h (administração)
Teatro de Arena Eugênio Kusnet
Rua Teodoro Baima, 94
Próximo à Igreja da Consolação
Tel: 3256-9463

(30/10/2005)

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