As responsabilidades do gestor público liderando agentes de mudança


            A figura do administrador público centralizador, inserido em uma hierarquia vertical restrita e agindo por procedimentos cíclicos tem passado por certo desgaste. A gestão pública tem apresentado necessidade de se transformar, adaptando-se cada vez mais aos anseios dos cidadãos. Estes, cientes de integrarem um meio social, cobram para que as ações públicas devem estar pautadas às suas expectativas; sabem não só cobrar pelo que lhes competem, mas de quem está atribuída esta responsabilidade.
            Muito desta mudança é devida sim ao desenvolvimento social e econômico da população, mas também de fins políticos da modernização administrativa baseados em modelos das empresas privadas sem se esquecer do valor público, das ações públicas, dos procedimentos. A necessidade desta mudança provoca a reflexão sobre quais impactos os papéis do agente público e seus valores éticos e morais podem sofrer.
            O valor gerado ao cidadão pelo serviço público é fruto de um trabalho coletivo em que as etapas e os processos são modelados através de relações pessoais dos servidores. E realizar uma reforma administrativa em que o funcionário é participante das decisões, trazendo-lhe autonomia e flexibilidade de ações pode significar um ganho significativo para atender às demandas sociais de forma mais abrangente e mais próxima da realidade da população. Com a descentralização das ações e modernização tecnológica, torna-se possível desdobrar políticas públicas em metas de governo índices de avaliação das condições do desenvolvimento promovido.
            Mudar os papéis da gestão pública, da filosofia organizacional do serviço público concedendo maior poder de escolha ao agente público semelhante aos gestores de empresas privadas desenvolve uma visão coletiva da cidade pautada na individualidade do cidadão, valorizando-a. Pensando no cidadão como fim do trabalho do servidor público, a horizontalização da administração pública valoriza mais as ideias, a reflexão sobre os procedimentos do que uma mudança em que a hierarquia de trabalho fique pulverizada em camadas de organogramas que fogem ao conhecimento do próprio funcionário.
            Este desafio de compartilhar a responsabilidade de administrar o serviço público agregando valor sem se afastar dos princípios de equidade promove que o funcionário busque significado em seu trabalho cotidiano. Agindo com mais autonomia, o servidor torna-se mais produtivo em prol do bem-estar coletivo pensado nas políticas públicas. Assim, ele não é somente agente público, um instrumento da gestão pública, mas um promotor das ações planejadas executadas em conjunto, agregando qualidade no atendimento às demandas sociais.
Ao mesmo tempo, não é possível relevar que quando se qualifica os interesses particulares da população atribuindo ao servidor autonomia em decisões fica aparente que o conceito sobre o que é público sofre alguma alteração. Neste momento é preciso pensar que o gestor é parte da sociedade e pode privilegiar setores afins. 
E, por isto, há também neste processo de modernização a necessidade de dispor de critérios para responsabilizar o funcionário público por suas ações. Como um funcionário público poderia agir com livre-arbítrio em seu trabalho sem que houvesse além do respeito à moralidade o cumprimento das regulamentações, das leis?
Esta responsabilização precisa ser encarada mais como medida que garanta uma uniformidade das ações realizadas pelos diversos servidores e gestores do que restritiva à criatividade dos mesmos ou como instrumento punitivo aos desvios de conduta que possam surgir.  
Respeitar a uniformidade das ações públicas aqui se torna uma questão complexa que não padroniza o perfil do servidor de acordo com os interesses da gestão, mas que o conscientize de seu papel num ciclo de reflexão dos processos de trabalho. Ele torna-se um indivíduo que se adapta ao contexto político influenciando e sendo influenciado nas decisões. 
É preciso lembrar que o agente público produz os serviços públicos e ainda como cidadão utiliza estes mesmos serviços. Nisto justifica-se democraticamente a sua participação na modernização da gestão pública e a importância das ações formuladas pelo Estado para garantir o acesso de todos a estes bens produzidos.
Conciliar responsabilidade pessoal com responsabilidade administrativa para o gestor público pode ser analisado como um paradigma em conflito fruto desta necessidade de modernização do que um combate de forças. Até porque considerando a diversidade de valores daqueles que atuam na administração pública não se restringe a determinados padrões de comportamento/ideais/ações. 
Esta mesma necessidade indica a existência de um profissional multivalente: um cidadão que sabe das suas carências pessoais, busca conquistá-las, é ciente de seu contexto político e social e representante público produzindo serviços, a partir da legalidade, para atender a população. Ele é integrante-representante da cidade e isto deve transparecer em sua carreira e em sua vida particular: um agente de mudança de conceitos, portanto, que sua responsabilidade possa ser compartilhada.

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